IMPACTOS DO TRABALHO NOTURNO
A
comodidade de ter serviços e produção funcionando 24 horas por dia
pode implicar em problemas de saúde naqueles que trabalham no período
da noite. Isso porque dormir durante o dia não é a mesma coisa que à
noite, principalmente entre as mulheres. Os sons da casa e da rua, e
a claridade impedem que a pessoa se "desligue" para dormir e cumpra
todas as fases do sono, fundamentais para a reposição das energias.
Na
pesquisa realizada com um grupo de trabalhadores de uma fábrica de
plásticos, com turnos no período noturno, os pesquisadores Lúcia
Rotenberg, Luciana F. Portela, Willer B. Marcondes e Cristiano de P.
Nascimento, do Instituto Oswaldo Cruz; e Cláudia Moreno, do Departamento
de Saúde Ambiental e do Grupo Multidisciplinar de Desenvolvimento e
Ritmos Biológicos, ambos da USP, chegaram a algumas conclusões.Uma
delas é que as mulheres têm mais dificuldade para dormir durante o
dia, uma vez que, em geral, são elas que cuidam dos afazeres diurnos
da casa. Isso as impede de dormir o mesmo número de horas que
dormiriam à noite. Já os homens, apesar de se queixarem do barulho do
dia, conseguem dormir mais horas. O grupo estudado foi de 46 pessoas
- 30 mulheres e 16 homens. A média de horas dormidas do grupo difere
em relação ao sexo e se esses trabalhadores têm ou não filhos até 10
anos de idade: 5,5h para os homens e de 4,6h para as mulheres.
Quando se trata de homens e mulheres que têm filhos, observou-se que
para eles a presença de crianças na casa não faz diferença. Para as
mulheres, sim.
SAÚDE Essa
mudança no padrão do sono dos trabalhadores noturnos gera problemas à
saúde e dificulta os relacionamentos. Os entrevistados disseram que
se sentem sempre cansados, se alimentam errado em função dos horários
diferentes do restante da família e seu humor está sempre alterado. A
necessidade de repor as horas perdidas de sono interfere também no
lazer, nos relacionamentos amorosos e no sexo.
Marco Túlio Mello, do Departamento de Psicobiologia da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp), pesquisa o sono de motoristas de
ônibus e caminhões e diz que a redução no tempo total de sono faz com
que o trabalhador não passe por todas as suas fases, o que provoca
alterações no ritmo biológico, sonolência no trabalho, perda de
memória, diminuição do processo cognitivo e dos reflexos.Fica mais
exposto a acidentes ocupacionais, ao estresse e a fatores emocionais.
"É preciso adequar as escalas de trabalho, respeitando o fator
biológico e social e não privilegiando apenas o financeiro. O
trabalhador, com boa qualidade de vida, produz mais e não o inverso!",
diz Mello.
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